Um paradoxo instalado em nossa sociedade há mais de 150 anos é o uso do petróleo e seus derivados – base da economia centrada no carbono — e a crescente demanda por alternativas que substituam essa matéria-prima geradora de impactos socioambientais negativos.
O texto de CH 405 intitulado “O poço é mais fundo”, de Marcia Caruso Bícego e Tássia Oliveira Biazon, traz essas contradições em diversos exemplos que mostram a relação de dependência da sociedade de consumo pela indústria petrolífera e os desastres causados pela atividade do setor.
O texto é formidável para ser utilizado nas aulas de química, pois mostra que, em se tratando de soluções para uma sociedade sustentável, há muita zona cinzenta a ser discutida, ou seja, romper com a indústria petrolífera requer soluções melhores do que ela. Quais seriam?
O conhecimento químico permeia todo o texto: a natureza química do petróleo e seus derivados, propriedades da matéria, mudanças climáticas e a acidificação oceânica. Na dica de química, optamos por dar ênfase à solubilidade e à densidade, pois são aspectos intrinsecamente relacionados com o óleo que surgiu na costa do Nordeste brasileiro em 2019 e 2022.
A atividade sugerida pode ser aplicada ao estudo das propriedades físicas da matéria, que são: cor, estado da matéria, ponto de fusão, ponto de ebulição, densidade, solubilidade, condutividade elétrica, maleabilidade, ductilidade e viscosidade. De forma integrada, o estudo crítico sobre o uso do petróleo e seus derivados pela sociedade atual pode ser discutido por meio da metodologia ativa denominada “júri simulado”.
Num primeiro momento, a apresentação das propriedades físicas da matéria por parte do professor dará subsídios para as discussões posteriores no júri simulado. O texto “O poço é mais fundo”, publicado em CH 405, ressalta duas propriedades da matéria que são a solubilidade e a densidade, e que devem ser bem exploradas para o entendimento do comportamento do óleo derramado em águas salinas.
Recordando o conceito, a densidade é a razão entre a massa de uma substância e o seu volume (d = m/v). Pode ser expressa em gramas por centímetro cúbico (g/cm3) ou gramas por mililitro (g/mL). É uma propriedade aplicável a gases, líquidos e sólidos e é afetada pela variação de temperatura. Um aspecto que precisa ser ressaltado é que a densidade de uma substância pura é alterada quando há mistura de substâncias, por exemplo, água pura e água do mar (Tabela 1).
Tabela 1. Densidade da água e da água do mar expressas em g/mL.
No caso do petróleo, é preciso explicar que se trata de uma mistura de hidrocarbonetos e, dependendo da composição do petróleo, sua densidade pode variar. A densidade do petróleo pode ser expressa em termos de densidade relativa à densidade da água a 20°C, simbolizada por ρ, ou por grau API que é adotado pela indústria (tabela 2). Petróleos mais densos do que a água doce e a água do mar têm densidades relativas maiores que 1,00 e API menor que 1,00 e costumam afundar.
Com base nos dados apresentados, é possível fazer algumas inferências. Sabendo-se que o petróleo não é solúvel na água do mar, é esperado que, em caso de derramamento, o óleo fique na superfície da água ou no fundo do mar? Para responder a esta pergunta é preciso refletir sobre que tipo de petróleo foi derramado e suas dinâmicas no ambiente marinho.
Para a atividade do júri simulado, uma situação-problema deve ser apresentada. Um bom exemplo é o aparecimento de manchas de óleo na costa do Nordeste brasileiro em 2019 e o ressurgimento de óleo em 2022, citado no texto de CH 405. Para complementar a leitura dos alunos, sugere-se o texto “Petróleo extrapesado é o pior entre todos os que poderiam cair no mar; entenda análise do DNA do óleo”, além de outras fontes de estudo fornecidas pelo professor.
A turma deve ser organizada em dois grupos: um defenderá o uso do petróleo e derivados e o outro apontará os danos socioambientais causados pelo óleo que surgiu nas praias e mar do Nordeste. Personagens-testemunhas podem ser criadas para dar maior dramaticidade e enriquecer o debate. O professor/juiz analisará a argumentação dos advogados com base nos dados apresentados. A avaliação será pautada nos conhecimentos químicos e na visão crítica formada, adquiridos pelos alunos nas aulas e em pesquisas para corroborar as defesas.