Um estudo confirma o que os astrônomos já suspeitavam há tempos, mas ainda não tinham como provar: os raios cósmicos são remanescentes de estrelas mortas. A descoberta foi possível depois de quatro anos de análise de dados sobre raios gama coletados pelo Telescópio Espacial Fermi, da agência espacial norte-americana, a Nasa.
Os raios cósmicos são partículas minúsculas e velozes que viajam pelo espaço e bombardeiam a Terra a todo instante. Grande parte dos raios cósmicos é formada por prótons superenergéticos cuja fonte era até então desconhecida. Os astrônomos desconfiavam que essas partículas tinham origem em buracos negros fora da nossa galáxia ou em supernovas, explosões de estrelas massivas que produzem objetos extremamente brilhantes. Mas nenhuma das duas teorias havia sido comprovada.
Quando uma supernova é gerada, milhares de partículas que faziam parte da estrela, inclusive prótons, são ejetadas. Astrônomos teorizavam que durante esse evento os prótons liberados pela explosão da estrela colidiriam com os prótons estáticos do espaço, acelerando-os a quase a velocidade da luz e formando os raios cósmicos.
“A energia desses prótons é muito maior do que qualquer energia produzida na Terra, mesmo da gerada nos mais potentes aceleradores de partículas que temos”, exemplifica o astrofísico Stefan Funk, da Universidade de Stanford (Estados Unidos) e líder do estudo, divulgado no encontro anual da Sociedade Americana para o Progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês), que acontece em Boston.
O problema de provar essa ideia é que com a tecnologia atual não é possível detectar os prótons em sua origem. Por isso a equipe de cientistas, em busca de pistas, analisou os raios gama que chegam à Terra. Funk explica, no entanto, que, na colisão de prótons, é liberada uma partícula chamada píon neutro que, com o passar do tempo, se transforma em fótons que compõem os raios gama e são detectáveis por telescópios.
Com base nisso, o pesquisador e sua equipe olharam para os registros de detecção de raios gama feitos pelo telescópio Fermi nos últimos quatro anos e compararam os dados com o que conheciam sobre as supernovas na Via Láctea. Assim, eles identificaram raios gama que, ao que tudo indica, teriam origem em duas supernovas antigas, uma localizada na constelação de Gêmeos, há 5 mil anos-luz da Terra, e outra na constelação da Águia, há 10 mil anos-luz.
Veja a seguir vídeo (em inglês) que explica a formação de supernovas e o estudo
Funk explica que o mais complicado do estudo foi distinguir nos registros o que era sinal de raios gama e o que era ruído de fundo. “Pela primeira vez conseguimos detectar, indiretamente, os prótons acelerados gerados na supernova”, diz Funk animado.
“Esses prótons nos acertam a todo instante, não fazem mal nem bem e respondem por uma parte ínfima da radiação que existe na Terra, mas, por outro lado, têm importante papel na evolução da galáxia. E além de tudo, o mais fascinante é pensar que partículas tão pequenas têm origem num dos maiores eventos da nossa galáxia, explosões de estrelas gigantescas!”
Sofia Moutinho*
Ciência Hoje On-line
*A repórter viajou para Boston a convite da Associação Americana para o Progresso da Ciência (AAAS)