Canídia, Medeia e Circe – capazes das crueldades mais elaboradas – podem ter sido as matriarcas de todas as feiticeiras que as sucederam na literatura
Canídia, Medeia e Circe – capazes das crueldades mais elaboradas – podem ter sido as matriarcas de todas as feiticeiras que as sucederam na literatura
CRÉDITO: IMAGEM: MADEMOISELLE CLAIRON EN MÉDÉE, DE CARLE VAN LOO (1760) / DIVULGAÇÃO
A palavra bruxa tem origem incerta, mas é muito provável que tenha vindo de alguns dos dialetos ibéricos, e não do latim. Se assim fosse, a palavra também apareceria no francês e no italiano, o que não acontece, uma vez que, na língua francesa, temos sorcière, e, na italiana, strega.
Há historiadores que defendem que a primeira aparição de bruxa se deu entre os sumérios e babilônicos, na figura de Aradat ou Lilitut, que seria um espírito feminino, frio e estéril, dotado de asas, com pés e mãos em garras, sempre seguido por corujas e leões. Esse modelo de bruxa movia-se velozmente durante à noite, soltando uivos estarrecedores, seduzindo homens adormecidos ou bebendo-lhes o sangue.
Já na Antiguidade clássica, passaram a ser conhecidas também como feiticeiras. Um dos primeiros registros que se tem notícia na literatura é do século 5 antes da nossa era, com um dos mais importantes poetas de Roma: Quinto Horácio Flaco, cuja obra vai do gênero lírico ao satírico. A sátira foi muito explorada no tempo de Horácio, época em que os desmandos, as atrocidades e a corrupção dos imperadores e políticos eram criticadas e ridicularizadas pelos poetas. Além disso, as mulheres também eram lembradas nos poemas, ora como musa, ora como cruéis, assassinas, falsas e libidinosas. E é como vil assassina que Horácio vai se referir a Canídia, a primeira bruxa do poeta. Uma mulher poderosa que matava animais e crianças para retirar-lhes o sangue a ser utilizado na fabricação de diversos filtros mágicos – alguns com o propósito de manter a juventude eterna, a beleza; outros, para a conquista de amores.