CIÊNCIA HOJE: Há um mito bastante difundido de que a Independência brasileira se deu de forma pacífica e que não houve ‘guerra da Independência’, assim como em outros países das Américas. Pode falar sobre por que e como esse mito foi propagado e sobre os conflitos que marcaram o período?
PATRICIA MARIA ALVES DE MELO: Há uma vasta historiografia que analisa essa questão, que tem muitas dimensões. Vou destacar apenas uma delas: houve a construção de uma determinada ideia de nação pautada por um ideário de que haveria um sentimento latente de nacionalidade, no sentido de pertencimento a determinado lugar. Desse modo, os movimentos pela Independência teriam seguido um caminho pacífico porque iam ao encontro dos mais profundos desejos de liberdade fortalecidos por essa ‘proto-nacionalidade’, vamos dizer assim, de modo bem simplificado. Estamos diante de uma construção narrativa, claro.
A ideia de pertencimento a uma nação é um processo de construção de determinados ideais políticos, de certo passado e de construção de futuro. E o que tínhamos eram ‘muitas colônias’ na América portuguesa. Havia uma ideia de pertencimento a uma coroa, de vassalagem com um trono. A ideia de uma nação não estava presente nessas áreas coloniais. Ou seja: não existia um Brasil colonial que compartilhava um desejo de independência dessa metrópole, esse ideal de nação que estava sendo proposto.
Por Valquíria Daher
Jornalista, Instituto Ciência Hoje