Estudo inédito apresenta o perfil e a demanda de recursos humanos nos últimos anos no Brasil e aponta desafios para a pós-graduação nacional. Entre os resultados do trabalho, destaca-se o número de mestres titulados no país, que cresceu de 10.389 em 1996 para 38.880 em 2009. Além disso, verificou-se que há hoje uma maior distribuição de cursos nesse nível pelo país.
A análise foi realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), em parceria com Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e contou com dados do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A publicação dá continuidade à análise sobre a demografia de doutores no país publicada em 2010, que deu início aos trabalhos do CGEE na produção de dados estatísticos sobre a formação e o emprego de pessoal em nível de pós-graduação no Brasil.
O estudo atual trata dos dois tipos de mestrado, acadêmico e profissional. Segundo a coordenadora da pesquisa Sofia Daher, assessora técnica do CGEE e analista de ciência e tecnologia do CNPq, os resultados mostram que o número de titulados no mestrado profissional teve um crescimento anual médio perto de 50% no período estudado, enquanto o mestrado acadêmico cresceu cerca de 10%.
“Naturalmente o número de programa e titulações no mestrado profissional é ainda pequeno quando comparado ao mestrado acadêmico, mas o grande crescimento recente mostra uma tendência importante”, afirma. “A taxa de emprego e mesmo a remuneração dos mestres profissionais foi superior à dos mestres acadêmicos”, complementa.
Mais que uma etapa
A pesquisa mostra que, em relação a 1996, há maior distribuição dos mestres pelos setores da economia para atender as demandas de mão de obra qualificada. “O mestrado não é apenas uma etapa para se alcançar o doutorado; há uma demanda do mercado de trabalho por profissionais com essa formação”, avalia a coordenadora da pesquisa.
Por outro lado, a proporção de mestres que tem emprego formal na educação é bastante inferior a de doutores, assim como a proporção de mestres com emprego formal na indústria é mais de três vezes superior à de doutores. “Os doutores estão bastante concentrados na educação e têm se ocupado principalmente com a tarefa de formar outros professores e fazer pesquisa nas universidades”, diz Daher.
Os resultados indicam também que houve um aumento importante na formação de mestres provenientes de programas de mestrados de instituições particulares. Só em 2009, estes responderam por 22,4% dos títulos conferidos. “Mas esses títulos se concentram em áreas com menor exigência de infraestrutura, como ciências sociais aplicadas, ciências humanas, linguística, letras e artes”, ressalta.
Desafios para a pós-graduação
Dentre os desafios apontados pelo estudo destaca-se a necessidade de diminuir as diferenças de raça e gênero no ensino superior brasileiro – ainda muito presentes. Os resultados mostram, por exemplo, que as mulheres são maioria entre os mestres, mas têm remuneração muito inferior, tanto na academia quanto no mercado.
“Estudos específicos devem ser feitos para explicar a origem dessas diferenças, mas uma das hipóteses é o tipo de ocupação”, observa Daher. “No estudo anterior sobre doutores, a Pesquisa Anual por Amostra por Domicílios (PNAD) de 2008 já apontava que as mulheres ocupavam menos cargos de direção e muitas delas atuavam como professores de ensino de 2º grau, obtendo menores remunerações.”
Outra hipótese destacada pela coordenadora é a maior concentração de mulheres titulando-se em áreas do conhecimento cujas remunerações são em média menores, como biologia, ciências humanas, linguística, letras e artes.
Dados do estudo apontam ainda que, enquanto os brasileiros que se declaram pardos representam 43,42% da população, eles são apenas 15,70% daqueles que têm mestrado e 12,21% dos que têm doutorado.
Segundo Daher, essas e outras informações geradas pelo estudo servem como base para a formulação e o aperfeiçoamento das políticas públicas de formação de recursos humanos, particularmente de mestres e doutores.
Déborah Araujo
Ciência Hoje On-line