CRÉDITO: A PARTIR DE AMÉRICA INVERTIDA -1943 -JOAQUÍN TORRES GARCÍA.
CRÉDITO: A PARTIR DE AMÉRICA INVERTIDA -1943 -JOAQUÍN TORRES GARCÍA.
A emancipação política dos territórios coloniais não foi garantia para o desmantelamento dos dispositivos de dominação e exploração sedimentados pelos processos de colonização e pelo fenômeno da modernidade. Em suas pesquisas, o sociólogo mexicano Pablo González Casanova (1922-2023) dedicou-se à investigação das estruturas coloniais mantidas e renovadas pelos Estados nacionais mesmo após as independências. O ‘colonialismo interno’, conceito cunhado por ele para se referir a tal processo, diz respeito à permanência de práticas de colonização de cunho político, econômico e social, mas nos leva também a pensar a subalternização dos sujeitos coloniais e de suas formas de performar o mundo e produzir conhecimento. Os impactos dos silenciamentos impostos pela colonialidade e modernidade atingiram o campo das ciências sociais e resultaram na construção de narrativas eurocêntricas, pautadas pela objetificação e universalização dos povos que foram colonizados.
No entanto, podemos identificar manifestações intelectuais que protagonizaram interessantes projetos direcionados à produção de narrativas mais centrífugas, múltiplas e descolonizadas, isto é, voltadas à problematização da colonialidade em suas diferentes formas, inclusive epistêmicas. Entre eles, estão as propostas do Grupo Modernidade/Colonialidade, coletivo transdisciplinar concebido na década de 1990 por pesquisadores, sobretudo latino-americanos, interessados em compreender o papel exercido pela modernidade e pela colonialidade na constituição do sistema-mundo moderno, assim como em lançar luz sobre a existência de um pensamento decolonial, aquele que surge dos rastros da ferida colonial e pressupõe a diferença epistêmica em relação ao conhecimento totalizante do Ocidente.
A proposta do ‘giro decolonial’, termo cunhado pelo filósofo porto-riquenho Nelson Maldonado-Torres, aponta para a possibilidade de construção de um novo olhar sobre o mundo, partindo de um quadro referencial distinto do mundo colonial e revela saberes que, embora silenciados pelas estruturas colonizadoras, existiam entre os povos nativos do continente americano antes da instauração do domínio europeu. Segundo a intelectual estadunidense Catherine Walsh, a decolonialidade se difere da descolonização, na medida em que não pretende apenas denunciar ou desfazer o colonial, mas sim dar voz à diferença colonial e trazer à tona saberes silenciados pelas estruturas colonizadoras.
CRÉDITO: FOTO DE ANTONIO BISPO / REPRODUÇÃO UBU EDITORA
É importante destacar, no entanto, que a perspectiva analítica decolonial suscitou críticas e desconfianças entre representantes dos próprios grupos subalternizados aos quais ela pretende dar voz. A intelectual ch’ixi Silvia Rivera Cusicanqui, por exemplo, argumenta que o reconhecimento do decolonial enquanto cânone acadêmico resultou na construção de estruturas piramidais de poder, formando redes clientelares entre intelectuais indígenas, universidades da América Latina e dos Estados Unidos. Dessa forma, os indígenas e suas produções intelectuais teriam sido relegados ao exotismo e à teatralização de sua condição originária, enquanto suas demandas políticas seriam digeridas e suavizadas pela “academia gringa e seus seguidores”.
Antônio Bispo dos Santos (1959-2023), uma das mais influentes vozes quilombolas do Brasil, dedicou sua vida à crítica ao colonialismo, mas a partir de um viés que igualmente se distancia da proposta da decolonialidade. Nego Bispo argumentava que os ‘decolonialistas’ trabalhavam no campo teórico e não atuavam de forma resolutiva em prol de um povo. Por isso, propôs o contracolonialismo, um modo de vida destinado a enfraquecer o colonialismo. O contracolonialismo de Nego Bispo tem como princípio o basilar estabelecimento de fronteiras capazes de criar respeito, correlações de forças equilibradas e diálogos entre os povos afro-pindorâmicos e os humanistas – aqueles que consideram os seres humanos como criadores da natureza –, permitindo que cada lado viva do seu jeito.
Trazido para o campo das Ciências Sociais, o debate sobre a descolonização adquire relevância na medida em que aponta para a introdução da colonialidade no campo dos saberes e subjetividades, assim como para o seu papel na construção da epistemologia ocidental. As discordâncias intelectuais em relação a essa temática contribuem para solidificar a crítica anti-eurocêntrica e tornar conhecidas visões de mundo historicamente eclipsadas.
CUSICANQUI, Silvia Rivera. Ch’ixinakak utxiwa: uma reflexão sobre práticas e discursos descolonizadores. São Paulo: n-1 edições, 2021.
DOS SANTOS, Antônio Bispo. A terra dá, a terra quer. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
GONZÁLEZ CASANOVA, Pablo. “Colonialismo interno (uma redefinição”. In: A teoria marxista hoje. Problemas e perspectivas. Buenos Aires: CLACSO, 2007.
QUINTERO, Pablo; FIGUEIRA, Patrícia; ELIZALDE, Paz Concha. Uma breve história dos estudos decoloniais. São Paulo: MASP Afterall, 2019.
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