O que é e como foi descoberto o monkeypox, doença conhecida no Brasil como varíola dos macacos?

Laboratório de Biologia Molecular de Vírus
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro

O monkeypox é causado pelo vírus monkeypox, identificado pela primeira vez em 1958, na Dinamarca. Na ocasião, macacos utilizados em um laboratório de pesquisa foram vítimas de uma doença que lhes causava erupções na pele, muito similar à varíola humana – por isso, a doença e seu agente etiológico foram denominados “varíola de macaco”, ou monkeypox em inglês.

Em 1970, como a campanha mundial de erradicação da varíola humana estava em suas etapas finais, foi feita uma intensa vigilância para rastrear possíveis casos. A atenção sobre essa doença levou à detecção, na República Democrática do Congo, de uma doença que, em sua fase inicial, também provocava febre, cefaleia e fadiga, além de erupções na pele que evoluíam para vesículas e pústulas com uma depressão central– características de doenças causadas por poxvírus. Tudo levava a crer que se tratava de varíola humana não fosse por um sinal clínico diferente: a pessoa infectada apresentava aumento de gânglios (linfonodos) nas regiões submandibular, axilar, cervical ou inguinal. Logo verificou-se tratar de uma doença causada por outro poxvírus: o monkeypox.

Na época, o monkeypox afetava prioritariamente crianças, provavelmente porque a vacina contra a varíola humana que os adultos tinham recebido os protegia também contra o monkeypox. Após o Congo, Libéria, Serra Leoa, Nigéria e Costa do Marfim reportaram casos de infecção por monkeypox. Hoje em dia, sabe-se que há regiões endêmicas de vírus monkeypox em outros países do continente africano, como Benim, Camarões, República Centro-Africana, Gabão, Gana e Sudão do Sul.
Existem duas cepas de monkeypox distintas: a cepa da Bacia do Congo, que apresenta uma taxa de letalidade de 11% (ou seja, a cada 100 casos de infecção por essa cepa, 11 são fatais), e a cepa do Oeste da África, que tem uma taxa de letalidade entre 1 e 3,6%. Antes da atual disseminação mundial de monkeypox, alguns casos importados haviam sido reportados no Reino Unido, Israel, Singapura e Estados Unidos da América, mas nunca passaram de casos isolados sem transmissão humano-humano nesses países. Todos esses casos importados, bem como o surto atual iniciado em maio de 2022, foram causados pela cepa do Oeste da África, que apresenta menor taxa de letalidade.

Como o monkeypox é transmitido?

Laboratório de Biologia Molecular de Vírus
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Universidade Federal do Rio de Janeiro

A principal forma de transmissão do monkeypox é pelo contato direto com as lesões de pele causadas pela infecção, pois elas estão repletas de vírus. Mas o vírus também pode ser transmitido por gotículas respiratórias contendo saliva, e até por objetos contaminados, como roupa de cama e toalhas utilizadas por uma pessoa infectada.

Apesar de estar se espalhando rapidamente pelo mundo, existem formas de combate e controle à infecção por monkeypox. As vacinas antivariólicas garantem imunidade contra todos os orthopoxvirus, entre os quais se inclui o monkeypox. Atualmente existem dois tipos de vacina antivariólica disponíveis no mercado, com tecnologias distintas: as que utilizam vírus vaccinia replicante, como a ACAM2000, que, apesar de segura, pode causar efeitos adversos e não é recomendada para indivíduos imunocomprometidos; e as que utilizam vírus vaccinia atenuado, como a MVA e a LC16m8, que são seguras para administração em indivíduos imunocomprometidos.

Além de vacinas, existem também antivirais com atividade específica contra orthopoxvirus, como brincidofovir e tecovirimat. Apesar de desenvolvidos para o tratamento de varíola humana, sua eficácia em inibir a infecção por outros orthopoxvirus, como o monkeypox, foi testada e aprovada.

Para finalizar, é importante esclarecer que primatas não são reservatórios do vírus – ou seja, não abrigam o vírus do monkeypox sem adoecer. Roedores são os reservatórios do vírus causador da doença. Os macacos contraem o vírus e transmitem para outros animais, como ocorre com os humanos. Em outras palavras, são tão vítimas quanto nós.

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