O que é racismo ambiental? Por que falar disso é importante?

Departamento de Engenharia Ambiental
Centro Universitário de Belo Horizonte (UNIBH)
Integrante do Movimento Negro Unificado

CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK

O racismo ambiental é um conceito que expressa a transversalidade do recorte racial, que diferencia quem se beneficia e quem sofre com a destruição e desastres ambientais. Em sociedades desiguais, os riscos ambientais e, portanto, os desastres ambientais não se distribuem igualitariamente por todas as camadas da população. Sociedades racistas, construídas com base na injustiça racial escravocrata como a do Brasil, expõem principalmente os grupos vulnerabilizados historicamente à intensidade dos chamados desastres ambientais. Assim, no caso do Brasil, os negros, fenotipicamente não brancos, pobres, são os mais expostos a qualquer impacto ambiental, principalmente, os de maior gravidade, duração e intensidade. Isso fica evidente, por exemplo, ao olharmos para as áreas de risco por todo o Brasil. Quem as ocupa? Quem vive ali? São as populações majoritariamente negras. E isso não é de hoje. Os negros foram empurrados, obrigados a ocupar as áreas de risco para refugiarem-se da escravidão. Nas áreas rurais, os quilombos ficavam nas grotas, que, com o desmatamento, foram os primeiros locais a sofrerem com as enchentes. Na área urbana, a mesma coisa. O resultado da exclusão territorial escravocrata desenha as cidades de hoje: quem está nas encostas, onde há o maior índice de deslizamento, são os negros. As baixadas, lugares com a pior drenagem, sem saneamento básico, são territórios que as imobiliárias não desejam e são deixados para as comunidades marginalizadas do espaço urbano, a população negra. Por exemplo, o desastre criminoso de Mariana (MG) foi uma barragem de mineração que se rompeu, e os primeiros atingidos foram os quilombolas de Bento Rodrigues. Depois atingiu as comunidades restantes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Os primeiros atingidos, os mais gravemente atingidos sempre serão os negros pobres. 

Em grande parte, as mudanças climáticas são resultado da escolha de modelos/paradigmas dos países ricos e das elites. Um modelo tecnológico energívoro e poluidor, consumista, modelo civilizatório eurocêntrico ocidental, racista. Por isso, temos que discutir a desnaturalização dos desastres, das mudanças climáticas e de suas consequências, como os desastres.

São escolhas políticas e econômicas. Dificilmente são usadas tecnologias de mitigação, como um aterro sanitário, num bairro de classe média, de maioria branca, por exemplo. As áreas escolhidas são invariavelmente pobres.

Frente a isso, o movimento de justiça ambiental requer reparação histórica com os que estão na diáspora africana, com os que foram migrados forçadamente do continente africano e com os que são atingidos pelos desastres ambientais modernos. Precisamos de prevenção a esses desastres, e a prevenção passa pelo fim do racismo, pela ecologia urbana e a agroecologia resguardada pelos povos tradicionais. Só assim enfrentaremos o racismo, que vai se requalificando: racismo estrutural, racismo ambiental, racismo climático. Em síntese, é enfrentar a violência e a injustiça socioambiental. Só assim podemos construir o bem viver. 

*Em depoimento à redação da CH. 

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