Atualmente existem cinco “vias” de publicação de um artigo científico no formato de acesso aberto. O mais adotado é o modelo chamado ‘via dourada’ (golden access), no qual os manuscritos são disponibilizados imediata e gratuitamente para qualquer pessoa. Neste modelo, os autores devem pagar as chamadas ‘taxas de processamento de artigos’ (Article Processing Charges, APC, na sigla em inglês). Os autores, que produziram o conhecimento e redigiram os trabalhos, pagam os custos de publicação, numa reversão completa da forma em que o mercado editorial opera (pagando aos autores pelo conteúdo gerado, e cobrando do leitor). Essa é uma mudança significativa também no mercado editorial científico: em vez de instituições de pesquisa assumirem os custos de publicação, a conta é paga pelos autores.
Outros modelos de publicação com acesso aberto também existem. Chamados de vias ‘verde’, ‘diamante’, ‘bronze’ e ‘negro’, estes não necessariamente envolvem custos para publicação ou leitura, e outros gastos são cobertos de outra forma. Em alguns casos, os manuscritos só são disponibilizados livremente e gratuitamente após um embargo de alguns meses.
Independentemente do tipo de “via”, o modelo comercial de acesso aberto opera com baixo custo, porque as editoras não pagam os maiores custos e “insumos”, ou seja, o conteúdo, já que os autores que realizam as pesquisas redigem, editam e formatam os artigos. Com o advento da internet e a digitalização das publicações científicas, os custos de produção e distribuição diminuíram substancialmente, tendo relativamente pouco impacto nas receitas. Isto explica o lucro bastante elevado dos grupos editoriais, que agora ganham não só pelas assinaturas dos periódicos, mas também pelas altas taxas de APC das revistas de acesso aberto pela ‘via dourada’ (a média de custos em área biológica é de R$ 10 mil por artigo). Mas esses valores podem ser ainda maiores, como é o caso da prestigiada Nature e mais de 30 revistas do mesmo grupo, que cobram hoje em torno de R$ 56 mil por artigo publicado! Está longe de ser a única: a prestigiada revista Cell também cobra hoje mais de R$ 50 mil por artigo.
Mas por que as editoras cobram taxas tão altas? Segundo essas empresas, os custos internos de publicação são bastante altos e, por isso, devem ser cobertos com a cobrança de APCs. A justificativa, no entanto, não se prova porque são os pesquisadores que produzem e checam a qualidade dos trabalhos de forma totalmente voluntária – estimativas independentes indicam que, mesmo mantendo margens de lucro de 30%, as atividades editoriais de revistas com alto grau de seletividade, como Nature e Cell, custam no máximo US$ 1 mil por artigo. A atividade de revisão voluntária realizada pelos pesquisadores representa a essência do processo de publicação, e o passo de maior valor agregado no processo de publicação, depois da produção da pesquisa e a sua redação no formato de um artigo. Sem eles, não teríamos as revistas científicas como elas existem hoje. Infelizmente, a ganância dos grupos editoriais parece não ter limites, e eles encontraram uma forma de ampliar ainda mais as suas elevadas margens de lucro.