Massacres com armas, casos de violência física e transtornos psiquiátricos relatados por equipes pedagógicas, como depressão, distúrbios alimentares, automutilação, bullying e agressividade. Tudo isso torna a saúde mental e a felicidade dos alunos temas importantes para a educação. A questão influencia a rotina dos estudantes e, muitas vezes, é associada a baixo rendimento, evasão escolar e desordens de comportamento. Apresentar a felicidade sob o ponto de vista biológico pode se converter em ferramenta pedagógica para a prevenção de diversos problemas de ordem psíquica, impactando positivamente espaço escolar, família e comunidade.
Contextualizar a felicidade em uma visão científica significa mostrar que o sentimento não está relacionado apenas a fatores ambientais. Há fatores endógenos também preponderantes na felicidade, cada um com um peso diferente. Esses endógenos da felicidade podem ser apresentados nas aulas de biologia, em conteúdos como anatomia, fisiologia, genética e nutrição, relacionando hormônios, órgãos, genes e alimentação às emoções. Aulas com esse enfoque podem abrir espaço para debates e reflexões, criando oportunidades para que os estudantes busquem ajuda junto a colegas ou professores, quando sentirem necessidade.
Chamados ‘quarteto da felicidade’ pela endocrinologia, os hormônios endorfina, dopamina, oxitocina e serotonina estão associados a bem-estar e prazer. Mas eles não estão incluídos no conteúdo sobre o sistema endócrino apresentado pelos livros didáticos. Acontece que conhecer o papel desses neurotransmissores no corpo – e como medicamentos ou exercícios físicos influenciam nas ações desses mensageiros químicos – pode ajudar na prevenção de uma variedade de condições psiquiátricas.
Assim, é pertinente uma abordagem do sistema endócrino mais detalhada pelo(a) professor(a) do ensino médio, que pode apresentar, por exemplo, situações práticas relacionadas ao desequilíbrio hormonal. É possível tratar da dopamina e sua associação ao vício e à esquizofrenia; da serotonina e os transtornos do humor, incluindo depressão e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), além de sua redução brusca no período pré-menstrual, resultando em irritação, ansiedade e desejo por carboidratos. Pode-se explorar também outro viés do sistema endócrino, que é a sua relação com o sistema digestório, responsável pela produção de 90% da serotonina no organismo.
No trabalho sobre o sistema nervoso, também é possível ir além do livro didático para apresentar um pouco do circuito emocional do cérebro, esclarecendo que a felicidade, do ponto de vista biológico, tem relação com a ativação de algumas estruturas:
Córtex pré-frontal: ligado ao centro de recompensa e prazer subjetivo
Hipocampo: responsável por experiências, problemas com o humor surgem nessa área
Cerebelo: relacionado a emoções básicas, como medo, prazer e alegria
Córtex cingulado anterior: transmissor de informações ligadas a emoções, empatia e recompensas, e, por esta razão, está associado a depressão, ansiedade e agressividade
Córtex insular: ativação associada às emoções positivas
Sistema límbico: ligado a emoções e comportamentos sociais
Hipotálamo: relacionado a prazer e recompensa
Amígdala: controle de emoções básicas (amor, sexo, raiva, medo, luxúria, inveja, amparo, interação social, recompensa e memórias afetivas); atualmente relacionada à depressão
Gânglios basais e seus núcleos: ligado a sensações de recompensa e seu descontrole leva à ansiedade
Cabe ressaltar que, em livros didáticos, não é discutido que o cérebro só estará totalmente formado na pós-adolescência. Saber que o controle do córtex pré-frontal, por exemplo, não se consolida plenamente até 20 e poucos anos, gerando alguns tipos de atitudes, ajudaria a melhorar a visão que o adolescente tem de si e dos colegas, influenciando relações interpessoais e autoestima.
Existe um nível mínimo de satisfação com a vida, que se mantém consistente e persiste ao longo do tempo. Uma pesquisa relativamente recente em neuropsicologia diz que 30% desse estado satisfatório que se traduz em felicidade estão ligados ao DNA. Esse dado propicia entender que restam 70% para cada um moldar a sua felicidade. Como exemplo podemos citar os genes MAOA (Monoamina Oxidase A) e o SLC6A4 (Transportador de Serotonina Dependente de Sódio e Transportador de Soluto Família 6 Membro 4), pois, com avanços na genética molecular, descobriu-se que codificam proteínas que metabolizam e transportam neurotransmissores, respectivamente, influenciando na regulação do humor e tornando-se alvos para medicamentos psiquiátricos.
Será que é do conhecimento dos estudantes que determinados alimentos são capazes de aumentar a produção de neurotransmissores e áreas do cérebro associadas ao bem-estar? Talvez não. Cabe, portanto, explicar que, dependendo do que ingerirmos, haverá uma série de processos metabólicos que transformarão os nutrientes no que o cérebro precisa. Um exemplo é o triptofano, um aminoácido necessário à produção de serotonina. Ele está presente em itens como carne de peru, banana, sementes, atum, carne moída, soja e laticínios, que devem ser combinados com alimentos ricos em vitamina B e carboidratos, como verduras, nabo, pimentão, grãos integrais, feijão e cevada.
Para além da biologia, a felicidade – que, na verdade, poderia ser traduzida como bem-estar individual – pode ser abordada como projeto interdisciplinar, envolvendo também professores de química, educação física, entre outros. Afinal, ciência sempre envolve os enfoques endógenos e exógenos. O primeiro se relaciona aos fatores biológicos, cognitivos, de personalidade e subfatores éticos. O segundo, a fatores comportamentais, socioculturais, econômicos, geográficos, casualidades da vida e subfatores estéticos.
Vanesa da Paz Reis da Silva
Mestrado Profissional em Ensino de Biologia em Rede Nacional (ProfBio)
*Artigo resultante de entrevista com a professora e pesquisadora Vanessa Rodrigues Paixão-Côrtes, da Universidade Federal da Bahia.
O debate sobre a antiguidade dos vírus é bastante complexo, já que não há evidências físicas diretas no registro geológico. Pesquisadores se valem de técnicas moleculares e observações indiretas em fósseis para estimar a idade de surgimento de alguns vírus, uma linha de pesquisa com grande potencial.
Maio de 2020. A Fiocruz completa 120 anos e tem a cadeira da presidência ocupada por uma mulher, a socióloga Nísia Trindade Lima, que lida com a pandemia de covid-19 como uma emergência sanitária e humanitária multidimensional, cujo enfrentamento requer conhecimento de todas as áreas da ciência.
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