Comparando partes do DNA, muitas espécies marinhas têm se revelado novas para a ciência e algumas delas ocorrem somente na costa brasileira
Comparando partes do DNA, muitas espécies marinhas têm se revelado novas para a ciência e algumas delas ocorrem somente na costa brasileira
CRÉDITO: ADOBE STOCK
O litoral brasileiro se estende por cerca de 7.400 quilômetros, abrangendo diferentes ambientes – praias, manguezais, costões rochosos, recifes de coral e ilhas – e abrigando uma ampla diversidade de formas de vida. Até hoje, mais de 9 mil espécies já foram identificadas em regiões marinhas e costeiras brasileiras – grande parte com base em suas semelhanças morfológicas, ou seja, semelhanças na aparência com espécies descritas em outras regiões do mundo.
Mas, ao olharmos minuciosamente para algumas dessas espécies, mais especificamente comparando partes do DNA, muitas delas se revelam novas para a ciência. Inclusive algumas ocorrem somente na costa brasileira.
Mas como essa investigação acontece? O DNA contém as informações genéticas, que estão presentes em todas as células dos seres vivos. Existem técnicas que permitem sequenciar os nucleotídeos (A, adenina; C, citosina; G, guanina; e T, timina) que compõem essa molécula, possibilitando “ler” a informação contida no DNA de cada organismo.
Regiões do DNA chamadas marcadores moleculares podem ser comparadas entre as espécies, permitindo verificar semelhanças e diferenças entre elas e auxiliar em suas identificações – juntamente com outras características, como aspectos morfológicos e ecológicos.
Além da comparação de curtos trechos de DNA, o enorme avanço tecnológico tem permitido o sequenciamento de trechos muito maiores e até mesmo do genoma – isto é, do conjunto de todos os genes e também de regiões não codificadoras – de diferentes espécies. As técnicas de sequenciamento em larga escala passaram a ser conhecidas como “omicas”. Por exemplo: a genômica estuda o conjunto de genes e outras regiões contidas no DNA; a transcriptômica, as moléculas de RNA; a proteômica, as proteínas formadas pela expressão gênica.
O fato é que o avanço desses estudos tem revelado que a diversidade de espécies marinhas na costa brasileira é maior do que o estimado. Mais que isso, tem deixado claro que o conhecimento sobre essa biodiversidade ainda possui grandes lacunas.
Através dos marcadores moleculares, centenas de novas espécies marinhas foram descritas no Brasil nos últimos anos, mostrando a existência de uma biodiversidade até então desconhecida. Por exemplo: um novo gênero de algas calcárias com dezenas de novas espécies foi recentemente descoberto e denominado de Roseolithon, devido a sua coloração rosada.
Diversas pesquisas têm abordado a importância da proteção da biodiversidade marinha e o seu potencial de utilização como um recurso sustentável. Para se ter uma ideia, cerca de metade do oxigênio na atmosfera provém da fotossíntese de organismos que vivem no oceano, como algas e cianobactérias. A biodiversidade marinha, portanto, é fundamental para a sobrevivência da humanidade.
Com as omicas, nossos olhos agora veem uma biodiversidade oculta e particular do mar brasileiro. Uma biodiversidade que pode ser considerada um presente da evolução. Presente este que pode ser usado de forma responsável, mas que, sobretudo, deve ser preservado para o futuro da humanidade.