Seguindo o ritmo atual, a pesca comercial pode levar ao esgotamento de peixes, crustáceos, moluscos e macroalgas até 2050
CRÉDITO: FOTO ADOBE STOCK
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A depender da sua exploração, a pesca é considerada um meio potencialmente renovável de extração de recursos marinhos renováveis vivos. A captura de peixes, crustáceos, moluscos e macroalgas, em diversas escalas de produção, incluindo a maricultura, atende tanto à demanda comercial de mercados internos e externos quantoàs necessidades de subsistência de comunidades costeiras tradicionais. Historicamente, ela, a pesca, tem sido a principal fonte de proteína animal dessas comunidades, e a modalidade artesanal de pequena escala é, sem dúvida, a de maior valor sociocultural, sobretudo na costa leste, nordeste e norte do Brasil. Cerca de um milhão de pescadores exploram manguezais, estuários e recifes calcários, como faziam os indígenas, muito antes da colonização portuguesa.
Em contraponto a esse extrativismo que permite a renovação de recursos vivos marinhos, temos a pesca comercial, que extrapola essa resiliência natural. Atualmente, para atender uma demanda de consumo mundial, cerca de 100 milhões de toneladas de peixes são retiradas do oceano todos os anos. Neste ritmo, vem sendo observado o esgotamento dos recursos-alvo, pois não há tempo hábil para que se recuperem.
Mundialmente, os estoques pesqueiros estão em declínio. No Brasil, observa-se forte queda nos estoques naturais de cherne, corvina, pargo, badejo, garoupas, atuns e várias espécies de cações e raias. Apesar das normativas internacionais e locais de proteção, que incluem as quotas de produção, a pesca comercial não tem conseguido a sustentabilidade dos recursos e a estimativa é de que estes venham a se esgotar até 2050, se nada for feito. Somam-se à sobrepesca outros impactos no ambiente marinho, como a poluição e a alteração de habitats, tornando a situação ainda mais crítica.
E não só à alimentação se destinam os recursos marinhos vivos. De diversos organismos são extraídas substâncias bioativas com aplicação biotecnológica nas indústrias médica, cosmética e alimentícia. Da esponja caribenha Cryptotethya crypta, por exemplo, retira-se a substância destinada à produção de um medicamento destinado a tratamento da infecção por HIV; com toxinas do molusco Conus magus é feito um poderoso analgésico; da ascídia Ecteinascidia turbinata produz-se um antitumoral. No Brasil, temos a macroalga Laminaria abyssalis que contém uma das substâncias mais promissoras para a produção de polissacarídeos.
Mais recentemente, uma gama importante de fontes de “energia verde” (azul, no caso do oceano) vem sendo explorada em menor escala, podendo ser produzidas por ondas, marés e ventos. Noruega, Inglaterra e Alemanha destacam-se nesse novo cenário de produção de energia sustentável. No Brasil, a exploração de recursos renováveis energéticos pode ser igualmente promissora se houver incentivo à pesquisa tecnológica. A energia eólica, por exemplo, tem enorme potencial nas regiões Norte e Nordeste, varridas diariamente pela persistência dos ventos alísios. A energia das marés, que pode ser potencializada pelas grandes amplitudes de até cinco metros na região Norte, ainda figura como uma promessa no país.
O oceano é promissor em recursos renováveis. Temos de agir imediatamente para conservar esta resiliência e conscientizar as futuras gerações da responsabilidade de ditar os rumos da exploração sustentável desses recursos marinhos, de modo a garantir a sua sustentabilidade e preservar o legado histórico, cultural e socioeconômico da costa brasileira.
Frederico Brandini
Tássia Biazon
Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano
Universidade de São Paulo
*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo.
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