Em uma época de mudanças climáticas tão profundas no planeta, preencher esse vazio do conhecimento é absolutamente mandatório
CRÉDITO: IMAGEM CORTESIA DE BRITISH ANTARCTIC SURVEY
CRÉDITO: IMAGEM CORTESIA DE BRITISH ANTARCTIC SURVEY
Pouco tempo após os primeiros exploradores europeus chegarem ao Novo Mundo, novos mapas atualizados começaram a ser produzidos. Cartas de navegação descrevendo a costa das novas colônias, assim como novos mapas-múndi, proliferaram e se tornaram documentos acessíveis. A era das descobertas foi moldada pela evolução nas teorias e tecnologias de produção de mapas, que continuou a sustentar as grandes expedições nos séculos subsequentes. Nas primeiras décadas do século 20, os grandes rios, como o Nilo e o Amazonas, tiveram seus cursos determinados; as expedições polares ao Ártico e a Antártida mapearam as últimas áreas realmente inexploradas do planeta; toda a topografia do subcontinente indiano foi cartografada em uma resolução sem precedentes através de um grande projeto chamado ‘Grande Mapeamento Trigonométrico’. Atualmente, com o desenvolvimento das tecnologias de imageamento e posicionamento por satélites, conseguimos acessar qualquer canto do planeta através de uma simples consulta ao celular. Pouco nos atentamos, no entanto, ao fato de que dois terços da superfície do planeta, ou seja, todas as áreas oceânicas, ainda são conhecidas em níveis similares ao dos continentes na Idade Média.
O motivo mais óbvio para isso é o fato de que o oceano é completamente inacessível à presença humana. Mesmo com pesados equipamentos de mergulho autônomo, só é possível chegar a algumas centenas de metros de profundidade. Submersíveis ou robôs de operação remota podem alcançar profundidades maiores, mas são equipamentos extremamente caros e de complexa operação. Ademais, a luz quase não se propaga em ambientes aquáticos, desta forma, os satélites não são muito úteis para se quisermos “ver” o que há nas regiões mais profundas do oceano. O principal instrumento de mapeamento dessas regiões é o sonar, que utiliza som, e não luz, para “ver” através do meio aquoso emitindo ondas sonoras através de uma fonte acústica e captando seu eco no fundo do mar, determinando, assim, a profundidade em determinado local.
Os primeiros mapas mais precisos do fundo do oceano foram elaborados com base em sonares nos anos 1940 e 1950, na carona do desenvolvimento de métodos acústicos impulsionados pela tecnologia militar da Segunda Guerra Mundial. Descobrimos que o assoalho oceânico é uma região coberta por gigantescas cadeias de montanhas, vulcões, vales e fossas abissais. Obtivemos dados para construir os primeiros grandes mapas globais dos fundo oceânico, informação que sustentou o desenvolvimento da grande teoria da Tectônica de Placas.
No início do século 21, além dos mapas de escala global, gerados a partir dos levantamentos por sonares, a maior parte da informação sobre o oceano vinha apenas de poucos dados sobre a água, substrato e de seres vivos, adquiridos através de amostragens diretas através de coleta de material em grandes projetos de pesquisa, restritos a poucos institutos e universidades com capacidade para bancá-los. As informações geradas eram, desta forma, restritas a publicações científicas, bibliotecas e banco de dados restritos de acesso limitado.
Mas o desenvolvimento de novas técnicas na coleta e distribuição de dados marinhos e oceânicos vem propiciar a disseminação de informações. Atualmente, boa parte dos barcos pesqueiros ao redor de todo o planeta, pressionado por rígidas regulamentações, envia dados a centros de informação sobre vida marinha; boias e sensores flutuantes captam informações a cada segundo de características físico-químicas da água; robôs autônomos navegam próximo ao fundo coletando dados sobre o substrato; novos sonares conseguem realizar levantamentos 3D da topografia em resolução centimétrica; sensores conectados a organismos marinhos obtêm informações sobre movimentação e comportamento de animais; satélites transmitem dados importantes como teor de clorofila e temperatura da água. Tudo isso com do apoio de centenas de navios oceanográficos que navegam através do planeta financiados por empresas, universidades e institutos de pesquisa.
Todo este esforço tem gerado um volume imensurável de informações que, em grande parte, são compartilhadas e distribuídas livremente. Apesar de todos esses avanços, há muito mais a ser feito. Ainda estamos entrando na “era do descobrimento” das regiões oceânicas e grande parte das áreas sobre as águas ainda aparecem como regiões incógnitas nos mapas. Em uma época de mudanças climáticas tão profundas no planeta, preenchermos este vazio do conhecimento é absolutamente mandatório e somente com coordenação e empenho em nível global isso será possível. Neste sentido, a “Década do Oceano” pode ser uma incrível oportunidade.
Luis Américo Conti
Escola de Artes Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo
*A coluna Cultura Oceânica é uma parceria do Instituto Ciência Hoje com a Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo.
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