Sérgio Amadeu da Silveira, diretor do ITI
(fotos: Bernardo Esteves)
No simpósio sobre software livre realizado na Reunião Anual da SBPC, o sociólogo mostrou números que revelam a dimensão da economia que poderia ser feita caso a inciativa se estendesse a outras esferas do governo federal. Sérgio apresentou licitações recém-aprovadas para o licenciamento do sistema operacional Windows XP e do pacote de programas Office (ambos da Microsoft), válido para os computadores de duas repartições federais — o Ministério da Previdência e Assistência Social e a Agência Nacional de Transportes Terrestres.
Somadas, as duas licitações — que permitem o uso dos softwares em questão durante apenas um ano — se elevam a R$ 1.814.598,96. “Esse valor equivale a 6979,22 salários mínimos e seria suficiente para comprar 259 laptops ou para custear a capacitação de 1296 funcionários para o uso do sistema operacional Linux, que é livre”, compara o sociólogo.
O governo federal tem incentivado a substituição pelo software livre dos programas usados nos computadores de suas repartições. Sérgio citou algumas instituições que já adotam os softwares abertos — são 58 órgãos desenvolvendo aplicações desse tipo. “No ITI, temos uma única máquina com o sistema operacional Windows, para poder dialogar com arquivos gerados por softwares proprietários”, afirmou.
Wagner Meira, professor do Departamento
de Computação Científica da UFMG
A adoção maciça do software livre nos computadores das instituições públicas foi fervorosamente defendida por todos os participantes do simpósio. “Essa é uma opção estratégica para o Brasil”, avalia Wagner Meira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Se o governo passar a trabalhar com padrões abertos, toda a iniciativa privada que lida com ele vai pensar da mesma forma, e todo o contexto vai passar a ser questionado.”
No entanto, Wagner enxerga uma série de obstáculos até que essa meta seja atingida. “A maioria dos leigos não distingue computador de sistema operacional, e essa é uma primeira barreira a se superar”, avalia. Mas resta ainda convencer os governantes.
“A classe política em geral não entende a profundidade do problema”, analisa Wagner. “Houve uma discussão muito séria sobre a abertura para o capital estrangeiro das empresas de mídia, com limitação de 30%, mas a informática do país está 100% nas mãos de uma empresa multinacional que não tem qualquer comprometimento com o país — e ninguém discute isso.”
Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
21/07/04