Você tem um amigo estraga-prazer? Aquele que conta o final do filme que você ainda não viu ou do livro que está lendo? Eu tenho e acho que ele financiou uma pesquisa divulgada na semana passada que diz que revelar o final de uma história não influencia negativamente o prazer que ela proporciona ao leitor.
Realizada por pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, o trabalho vai de encontro ao senso comum. Afinal, a primeira coisa que se faz é reclamar quando alguém começa a comentar um filme ou um livro que você ainda não viu ou leu.
Segundo os autores do trabalho, que será publicado na revista científica Psychological Science, o prazer está na escrita – o enredo seria “quase irrelevante”. Escrita é uma palavra importante, porque a pesquisa foi feita com base apenas em contos.
Foram selecionados 12 contos, divididos em três tipos: literários, de mistério e com uma virada inesperada. Havia três versões de cada história – uma normal, outra com um parágrafo inicial que resumia o enredo e revelava detalhes importantes da trama, e ainda outra com esse mesmo texto, só que inserido no meio da narrativa.
As três versões de cada história foram lidas por pelo menos 30 pessoas e a taxa de hedonismo – ou o índice de felicidade – obtida com o conto, calculada. Em todas as categorias, os leitores preferiram as versões com o parágrafo inicial ‘explicativo’, mesmo naquelas com as viradas no enredo ou nos mistérios.
Para os autores, além da já citada preferência pelo estilo de escrita, outra explicação para o sucesso das histórias ‘estragadas’ seria o fato de ser mais fácil ler um conto cujo enredo você conhece. Sabendo de antemão o que se passa, você poderia se concentrar nos detalhes.
Mas na opinião do Bússola, o detalhe interessante da pesquisa é mencionado por alto na divulgação do trabalho: a reação ao resumo explicativo inserido no meio do conto não foi tão feliz assim. Talvez informações que estraguem a história só tenham um efeito negativo se você já investiu tempo na narrativa e, especialmente, se está gostando do enredo.
E será que a pesquisa encontraria o mesmo resultado para filmes e séries de TV? O que você acha?
Fred Furtado
Ciência Hoje/ RJ